sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

 

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Criatividade é usar o cérebro de um jeito diferente

Encontrar novos caminhos entre ideias e conceitos depende, sobretudo, de flexibilidade cognitiva: a capacidade de mudar o conjunto de regras para resolver problemas

Nem a criatividade, nem a arte, nem a emoção são funções do lado direito do seu cérebro – e sim de várias estruturas diferentes, espalhadas órgão afora, e de seus dois lados.
Uma tabela publicada no final do século 19 ilustra a proposta de revisão: o lado esquerdo, relacionado à fala, seria “logicamente” também associado à racionalidade, à volição, ao consciente, e à masculinidade, e... à cor branca da pele (ou seja, tudo aquilo que o homem branco europeu, o dono do mundo na época, associava a si mesmo). O que sobrou para o outro lado do cérebro? Ora, a irracionalidade, o emocional, o inconsciente, a feminilidade, e... a cor escura da pele. E a criatividade entrou de gaiata na história como mais uma propriedade do “lado direito, emocional, do cérebro”.
Cento e cinquenta anos mais tarde, a neurociência atesta que lateralização funcional existe, sim – mas apenas em relação à linguagem (mais ao lado esquerdo) e à atenção (mais ao lado direito). Não há diferença no grau de lateralização entre homens e mulheres, nenhum tipo de evidência de que qualquer lado do cérebro predomine mais ou menos em pessoas diferentes.

E a criatividade, essa capacidade de recombinar informações já existentes para resolver problemas de maneiras novas? Segundo a neurociência, ela resulta de um processo semelhante no cérebro: da combinação “criativa” da atividade de partes do cérebro que já participam em outras funções, e não da atividade de algum “centro da criatividade” cerebral.

No final dos anos 1990, quando se tornou possível acompanhar a atividade cerebral em voluntários acordados e saudáveis, o neurocientista inglês Stephen Kosslyn mostrou que a imaginação – a capacidade de visualizar mentalmente o que não está acessível aos olhos ou outros sentidos – usa as mesmas partes do cérebro que recebem informações dos sentidos.
 mesmo se aplica a outras funções. A capacidade de encontrar novos caminhos entre ideias e conceitos, e novos conceitos a partir das mesmas ideias, depende do esforço conjunto de regiões dos dois lados do cérebro que também participam da memória de trabalho, da representação de objetos e ações, de significados emocionais complexos, do prazer e da satisfação, e sobretudo da flexibilidade cognitiva: a capacidade de mudar o conjunto de regras em uso. Na hora de ser criativo, o cérebro usa a si mesmo de outra maneira e descobre um caminho alternativo para resolver o problema da vez.

Acontece que cada uma dessas funções depende de expe-riência real com o mundo. Somente assim o cérebro aprende a enxergar, a representar objetos e ações, a raciocinar. Um cérebro que nunca viu araras ou ultravioleta não sabe imaginar o que é uma arara, ou a cor do ultravioleta. Se a imaginação depende dos sentidos e os sentidos dependem de experiência, então a imaginação depende de experiência.

A criatividade, portanto, pode ser desenvolvida junto com a experiência do mundo. É só o córtex pré-frontal deixar o resto do cérebro se soltar.
Fonte: Revista Mente e Cérebro

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