domingo, 9 de fevereiro de 2014

Exames de ressonância antecipam problemas cognitivos A atividade visível nas varreduras se correlaciona com medidas da capacidade mental dois anos mais tarde

A memória funcional (ou memória de trabalho), nossa capacidade de armazenar temporariamente informações isoladas, é crucial tanto para atividades cotidianas, como discar um número de telefone, como para tarefas mais exigentes, como aritmética ou fazer anotações precisas. A força da memória funcional frequentemente é medida com testes cognitivos, como repetir listas de números na ordem inversa ou recordar as sequências de pontos em uma tela. Em crianças, a performance em avaliações de memória de trabalho é considerada um forte indicador de seu futuro desempenho acadêmico.
Mas testes cognitivos podem falhar em identificar crianças cujo desenvolvimento cerebral está sutilmente atrasado, podendo levar futuramente a déficits de memória funcional e, portanto, de aprendizagem. Médicos aplicam os testes periodicamente e plotam os resultados ao longo de uma curva de desenvolvimento, parecida com a da altura e do peso de uma criança. Quando esses testes finalmente revelam que a memória funcional de uma criança está abaixo da média, já pode ser tarde demais para fazer alguma coisa para reverter a situação.
Em um novo estudo, publicado em 29 de janeiro no The Journal of Neuroscience, cientistas demonstraram que podiam prever a futura memória funcional de crianças e adolescentes ao examinarem imagens de varreduras cerebrais de dois tipos diferentes de imageamento por ressonância magnética (MRI), em vez de olhar apenas para testes cognitivos. Henrik Ullman, estudante de Ph.D. (doutorado) do Instituto Karolinska, em Estocolmo, e principal autor do artigo, afirma que este foi o primeiro estudo que tentou usar exames de ressonância magnética para prever a futura capacidade de memória funcional. “Ficamos muito surpresos quando vimos o que vimos”, admite.
No projeto, os pesquisadores aplicaram testes cognitivos padronizados e fizeram exames de varredura cerebral em 62 pessoas com idades ente 6 e 20 anos. Os exames de ressonância magnética mediram a densidade de várias estruturas cerebrais além da atividade cerebral durante um dos testes de memória funcional. Dois anos depois, as mesmas pessoas foram submetidas novamente aos testes cognitivos, mas não escaneadas, para verificar como a sua capacidade de memória de trabalho havia mudado ao longo do tempo.

 Em seguida, os pesquisadores procuraram correlações entre a primeira rodada de testes e as varreduras e os resultados dos testes cognitivos realizados dois anos mais tarde. Embora os resultados dos testes da primeira fase fossem bons indicadores da futura memória funcional, os pesquisadores descobriram que a inclusão dos resultados dos MRIs melhorava muito mais a sua capacidade de prever a futura memória funcional que apenas os resultados dos testes cognitivos.
 Ao olharem para os resultados de atividade cerebral, pesquisadores também foram capazes de determinar quais regiões específicas do cérebro estavam associadas à memória funcional atual e futura. Enquanto os participantes se submetiam aos testes cognitivos, pesquisadores detectaram uma intensa atividade no córtex frontoparietal, conhecido por sua importância para a memória funcional (ou de trabalho), assim como para a atenção e percepção. Mas essa atividade não previa acentuadamente futuros resultados da memória funcional; em vez disso, os resultados para dali a dois anos foram previstos com mais precisão pela atividade no tálamo e nos gânglios basais.
Ullman observa que, embora essas regiões sejam “partes muito centrais do sistema nervoso”, elas normalmente não são consideradas como diretamente envolvidas na memória de trabalho. O tálamo é mais conhecido por processar informações sensoriais, como audição e tato, enquanto os gânglios basais estão envolvidos em uma variedade de processos mentais, inclusive o controle de movimentos. Alguns estudos relataram ativações nessas áreas durante tarefas de memória de trabalho, explica Ullman, mas elas não são áreas frequentemente reportadas como participantes ativas do processo.

Os resultados do estudo não explicam por que essas regiões específicas do cérebro podem afetar a capacidade da memória funcional futura. Mas segundo Ullman, a maior importância do estudo é prova, em princípio, de que imagens de varredura cerebral podem, de fato, prever a futura função cognitiva. Ele acredita que varreduras cerebrais semelhantes algum dia possam ajudar a diagnosticar problemas de aprendizagem e cognição nos primeiros anos de vida. Se você souber quais crianças são mais propensas a desenvolver esses problemas “então você pode mobilizar apoio para elas mais cedo”, frisa ele.
Nico Dosenbach, pesquisador e professor de neurologia pediátrica na Washington Universityem Saint Louis, no estado de Missouri, que não esteve envolvido no estudo, concorda que a pesquisa tem aplicações futuras; mas salienta que é cedo demais para dizer quando isso poderá acontecer. Ainda assim, se as varreduras cerebrais podem prever problemas futuros, antes de serem detectados por testes cognitivos, a tecnologia poderia provar sua utilidade para a detecção precoce de distúrbios como a doença de Alzheimer. Segundo Dosenbach, para fazer uma verdadeira diferença na luta contra o declínio cognitivo vinculado ao mal de Alzheimer, os médicos precisam “intervir o mais cedo possível”.

FONTE: Scientific American

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